O Marismero morreu! Nunca conseguiu recuperar da terrível cornada que um irmão de camada lhe infringiu no dia 30 de Agosto do ano passado. Tentámos tudo para o salvar, mas o destino dele estava traçado, os destroços internos que sofreu eram enormes.
Foi um toiro com história e que faz parte da história da minha vida. Passei muitas horas a olhá-lo e ele a mim; cruzámos as nossas miradas longamente...ele o tótem dos campos, dos montados, relâmpago de fúrias, símbolo da virilidade cósmica, sagrada e humana e eu um simples humano que cismava porque sempre fui um homem que escolheu viver em perigo para colher o maior gozo da existência como sentenciou Nietzsche. Não nos salvámos a vida um ao outro, não! Como me corrigiu o meu querido amigo Chico Garcia, perdoámo-nos a vida um ao outro o que é bem diferente! Para salvar a vida a alguém basta com estarmos no sítio certo à hora certa e sermos um herói acidental; perdoar a vida é bem diferente, é decidir se deixamos viver ou não, é prerrogativa de reis, vive ou morre!
O Marismero deu-me que pensar! Fez-me pensar na vida, na morte, nos toureiros que regam com o seu sangue as hortas espirituais que alimentam os nossos espiritos boémios a acreditar na fantasia e a exilar definitivamente a vulgaridade.
Estou triste, mas não desisto da paixão de ver em cada bezerro que nasce
uma maravilhosa possibilidade de bravura. Fechou-se um ciclo, mas a vida está aí, não pára e peço a Deus que nunca me tire a paixão de vivê-la intensamente.
P.S.: agradeço a todos do coração todas as manifestações de carinho que tiveram para o Marismero 44. Joaquim Grave