A Tauromaquia Popular é a base da Festa Brava em Portugal, pois é através dela que os mais novos têm pela primeira vez o contato com esta cultura, tornando-se assim os Aficionados de amanhã das nossas Praças de Toiros.
Estima-se que por temporada haja mais de 1000 eventos taurinos populares, desde as tradicionais Largada de Toiros, Vacadas, Garraiadas, Capeias, Tourada à Corda, etc, sendo uma vertente fundamental de Feiras e Festas deste Portugal Continental, arrastando milhares de Aficionados às ruas, rompendo com a monotonia da vida quotidiana de aldeias e vilas, causando um enorme impacto económico positivo no comércio local.
Um desses exemplos são as Festas do Barrete Verde e das Salinas em Alcochete, que tem início sempre no segundo fim de semana de Agosto, organizado pelo Aposento do Barrete Verde, com os devidos apoios da Câmara Municipal, Junta de Freguesia e Identidades locais, onde são esperados anualmente entre 300 a 500 mil visitantes, pois praticamente todos dias, desde de manhã até madrugada fora, respira-se festa brava nas ruas com as tradicionais Entradas e Largadas de Toiros, só em 2019 houve 18 Largadas.
Para além de Alcochete, outras localidades como Azambuja, Benavente, Coruche, Ilha Terceira(Açores), Moita, Samora Correia e Vila Franca de Xira são alguns dos exemplos que a tauromaquia popular está bem enraizada, onde homens e mulheres afirmam os seus valores como a coragem e valentia, mas com a chegada da pandemia a Tauromaquia Popular desmoronou-se.
No dia 8 de Março de 2020, Porto Alto (Samora Correia) seria a última localidade do Ribatejo a receber um evento taurino popular, nunca mais a tauromaquia voltou a sair à rua, trazendo graves consequências ainda hoje incalculáveis ao meio, a começar pelas Comissões de Festas.
Apesar da maioria das Festas e Feiras serem apoiadas e algumas até organizadas pelas Autárquicas, cabe às populações constituir uma Comissão de Festas, regra geral entidades sem fins lucrativos, mas com os tempos que vivemos algumas poderão não resistir ou mesmo continuar adiar os seus festejos, pois é necessário uma enorme logística meses antes e muita disponibilidade pessoal. Às vezes até não é preciso uma pandemia, em 2016 as Festas do Foral do Toiro e do Fandango em Salvaterra de Magos não se realizaram, devido à falta de interesse por parte da população, apesar do apoio financeiro e logístico anunciado pela Câmara Municipal de Salvaterra na altura.
Mas a principal consequência grave que a pandemia trouxe à festa brava, é sem sombra de dúvidas a sobrevivência e o futuro das ganadarias portuguesas, pois os últimos dados anunciados antes da Temporada 2020, foi que em Portugal realizavam-se anualmente uma média de 200 a 250 espetáculos taurinos de Praça, ou seja, eram lidados entre 1200 e 1500 toiros, se por temporada havia uma conjetura de mais de 1000 eventos taurinos populares, seria necessário entre 2000 a 4000 animais, mesmo que os festejos populares absorvessem uma grande fatia dos animais lidados em Praça, era necessário ir a campo buscar animais (incluindo vacas e novilhos) para essa atividade.
A Tauromaquia Popular sempre ajudou à preservação de muitas ganadarias, se noutros tempos ganaderos não permitiam toiros seus nas ruas, hoje já vêm com bons olhos, pois é uma forma de verem o seu trabalho minimamente recompensado, mas a pandemia veio deitar por água a baixo todo esse trabalho, onde a maioria das ganadarias tiveram que abater grande parte do seu efetivo para que pudessem aguentar nestes tempos difíceis, por exemplo, a Ganadaria Lopes da Costa anunciou na sua página de facebook, que foi forçada a uma redução significativa do efetivo no final do ano de 2020, não dando números. Já a Casa Agrícola “Santo Toiro” sediada em Santo Estêvão (Benavente), que é um dos principais fornecedores de aluguer de gado bravo para festejos populares na zona do Ribatejo, no início da Temporada 2020 tinha cerca de 110 toiros, dos quais 50 estariam para estrear nas ruas (só lidados em Praça), havendo 11 puros, o efetivo contava com ferros das Ganadarias José Palha, Brito Paes, Jorge Mendes, São Martinho, Fernandes de Castro, entre outros ferros, tendo um investimento perto dos 50 mil euros (aquisição, medicação, alimentação, etc), na qual viu-se obrigado a meio do ano mandar abater cerca de 80 animais, tendo um retorno perto do 20 mil euros, com a carne a ser vendida a um preço simbólico.
E por fim a economia local e não só, com a ausência de festa brava nas ruas de Aldeias, Vilas e Cidades, existe um impacto económico negativo no setor do comércio, turismo, restauração e similares, deixando também de haver gratificados às Forças de Segurança, Bombeiros, Proteção Civil, Campinos, Curraleiros, etc, já para não falar dos milhares de euros que deixa de entrar nos cofres do Estado, como por exemplo, licenças na DGAV (Direção-Geral de Alimentação e Veterinária), pois a Tauromaquia é uma das culturas que mais sustenta o Estado Português.
Tudo indica que as tradicionais Largadas de Toiros, Vacadas e Garraiadas nas ruas, podem ficar ainda no ano 2021 em confinamento, justificação que é dada para que não haja ajuntamentos levando a novos surtos, mas agora eu pergunto, se houver Festivais de Verão em "recintos controlados", porque não levarmos a Tauromaquia Popular para dentro das nossas Praças, nem que paguemos para bem da festa, como já se faz em algumas localidades de Espanha, a Tauromaquia Popular também merece Respeito, porque no dia que acabar, acaba a Festa Brava em Portugal...